O Resgate 03 foi acionado pela Central de Regulação do SAMU para transportar uma criança em estado grave do Hospital de Brazlândia para a UTI pediátrica do Hospital de Base.
Tratava-se de uma menina de 6 anos que foi ejetada de um automóvel quando este capotou. Pelos relatos de familiares, ela ficou presa sob o veículo e chegou ao hospital com fortes dores abdominais.
Na admissão ao hospital estava consciente, com a melhor pontuação na Escala de Coma de Glasgow (Grau 15, ou seja, sem sinais de Trauma Crânio-Encefálico), porém em estado de choque. Imediatamente foi anestesiada e submetida a laparotomia exploradora (cirurgia que expõe o abdome das costelas até a região pubiana por uma incisão na linha média) com saída de grande quantidade de sangue da cavidade abdominal. O cirurgião identificou várias lesões graves no fígado e vasos sanguíneos calibrosos da criança e precisou utilizar técnicas de cirurgia vascular para conter o sangramento.
Após correção das lesões que ameaçavam a vida da menor de idade, o médico solicitou transporte aéreo para a UTI pediátrica do Hospital de Base, uma vez que não havia este recurso disponível no Hospital de Brazlândia. Por outro lado, o transporte por via terrestre seria prolongado (47,4Km – cerca de 52 minutos) e poderia expor a paciente a risco. A pediatra da equipe entrou no centro cirúrgico e permaneceu ao lado da paciente, junto com o cirurgião e a equipe de enfermagem, até o embarque da criança na aeronave.
Quando a tripulação do Resgate 03 chegou ao centro cirúrgico, a menina recebia volume (soro), reposição de sangue e drogas vasopressoras (noradrenalina e dobutamina – medicações para aumentar a freqüência cardíaca e a pressão arterial), mas ainda estava com a pressão arterial tão baixa que o aparelho automático não conseguia medir. A equipe de Brazlândia realizou radiografia de tórax da criança, identificou que o tubo traqueal estava seletivo (o tubo estava posicionado no brônquio direito, sem passar ar para o pulmão esquerdo) e reposicionou o tubo traqueal antes do transporte. Com isso, houve melhora gradual da pressão arterial e o oxímetro de pulso (aparelho que mede a quantidade de oxigênio no sangue) começou a captar sinal.
Durante o transporte, a tripulação do resgate 03 manteve as medidas de suporte iniciadas no hospital (infusão de soro e sangue, monitorização e administração de aminas vasoativas) e iniciou ventilação mecânica controlada. Durante o vôo, foram obtidas leitura de capnografia quantitativa (monitorização da quantidade de gás carbônico – CO2 – eliminada pelos pulmões) e as primeiras aferições de pressão arterial (139 x 83mmHg). Do heliponto do Hospital de Base até a UTI pediátrica, no quarto andar, a paciente foi transportada em ventilação mecânica (“respirador” oxilog®) e com monitorização dos quatro principais sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca, saturação de oxigênio e capnografia), além da infusão continua de aminas vasoativas e gotejamento de sangue.
A pequena paciente foi recebida pela equipe do Hospital de Base, que ajudou a passá-la, ainda na prancha longa, da maca de transporte para o leito da UTI pediátrica. Os parâmetros vitais foram obtidos, apesar da hipotermia (baixa temperatura corporal). A pressão arterial e a saturação de oxigênio estavam normais e ela já reagia com movimentos, precisando receber leve sedação.
O excelente atendimento prestado pela equipe do Hospital Regional de Brazlândia, que acionou o Resgate Aéreo no momento certo e com indicação precisa (combinação de fatores de estabilização de caso grave, necessidade de recursos especializados e tempo de transporte) proporcionaram melhores chances de recuperação desta criança, com o uso racional de todos os recursos disponíveis no Sistema de Saúde. A regulação do SAMU também teve atuação fundamental pelo enfermeiro de bordo e apoio em solo, tanto em Brazlândia, quanto no Hospital de Base.
O Resgate 03 foi uma ferramenta eficaz nos cuidados pós-reanimação, que foi acrescentado a cadeia da sobrevida em 2010. O helicóptero aeromédico atua em todos os elos, do suporte básico (em áreas isoladas, sem acesso a viaturas terrestres) ao suporte pós-ressuscitação. Outra modificação das diretrizes da American Heart Association (AHA) em 2010 foi a indicação de capnografia quantitativa para monitorização. No caso em questão, a paciente estava com pressão arterial “inaudível” e pulsos periféricos fracos, sendo monitorizada pela capnografia até recuperação dos outros parâmetros. O Resgate 03 dispõe de todos os recursos necessários (bombas de infusão, desfibrilador, marca-passo) para atuar no suporte avançado de acordo com as diretrizes internacionais. A tripulação realiza treinamentos regulares e atualizações teóricas para manter o elevado padrão de atendimento. Como de costume, o objetivo da atividade de Bombeiro é o bem estar da população.
Escrito por: Ten Médico CBMDF Villela.
Imagens: Cap BM Kleber - Pil.20.
Aeronave: Resgate 03, EC 135 T2, GAvOp/CBMDF.
Voar, Pairar, Salvar!
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