O local era de difícil localização por se tratar de uma DF pouco conhecida, necessitando maiores esforços na captação de informação de referências sobre o local e de planejamento para aperfeiçoar o emprego do recurso aéreo.
O pouso em estrada de não pavimentada ou em terreno com palha de cana recém colhida, provocou suspensão de poeira e muitos detritos, aumentando os cuidados no momento do pouso.
O irmão do motorista, que estava no banco do carona, ficou preso no veículo, com lesões potencialmente graves. Tinha uma laceração extensa na região temporal e diversas feridas cortantes na face, com moderada quantidade de sangue e fragmentos de tecidos em cavidade oral. Apresentava ainda uma lesão contusa em flanco direito e região dorsal, com crepitações a palpação dos últimos arcos costais. A ausculta pulmonar estava aparentemente diminuída no hemitórax direito com alguns roncos. Na coxa direita também apresentava uma pequena laceração com sangramento venoso e um hematoma na região da “Pata de Ganso”. Antes da administração de oxigênio, sua saturação era de apenas 80%.
Na avaliação clínica pela tripulação do Resgate 02, a vítima estava consciente, com pressão arterial 110/70mmHg, frequência cardíaca de 83bpm e saturação de oxigênio 97% com oxigênio sob máscara facial com reservatório. Já estava imobilizado, com curativos e dois acessos venosos. Foram administrados 2mg de morfina IV para aliviar a dor do paciente, sem precipitar depressão respiratória.
Diante das condições da vítima, a tripulação do Resgate 02 decidiu fazer o transporte com o monitor multiparamétrico e “briefou” com os pilotos para que fosse localizada área de pouso emergencial em caso de piora do estado clínico do paciente. A realização de procedimentos invasivos, como intubação traqueal, no local do acidente, poderia ser difícil pelas lesões e sangramento facial. A ventilação por pressão positiva também poderia precipitar expansão de eventual pneumotórax. Além disso, o paciente estava hemodinamicamente estável e a avaliação no ambiente extra-hospitalar é prejudicada por ruídos externos, poeira e restrição de recursos (espaço, iluminação, etc).
Após a decolagem houve queda na pressão não-invasiva para 80/60mmHg, restaurada para 94/65mmHg após infusão rápida de 250ml de Ringer Lactato. A opção foi prosseguir ao destino, com aferições de PANI ajustadas para cada 3 minutos, durante o vôo.
As aferições seguintes da pressão arterial, por monitor multiparamétrico, não mostraram nova queda dos valores.
O paciente permaneceu nas mesmas condições durante o vôo e foi transferido para a Sala de Trauma do Hospital de Base do DF, aos cuidados da equipe da cirurgia.
Este atendimento mostra a integração das equipes de resgate, o uso preciso do recurso aéreo (tempo de transporte ao hospital mais próximo acima de 30 minutos, em estrada de terra) e a integridade dos elos do atendimento pré-hospitalar no DF.
Do atendimento inicial com motos até a transferência do helicóptero para um Centro de Trauma Avançado, a corrente da sobrevida chegou até a área rural de Planaltina. O sistema de atendimento deslocou os elos de suporte básico (moto e ambulâncias), viaturas de busca e salvamento e finalmente o suporte avançado, de forma progressiva e ordenada, até a vítima. Desse modo, o paciente recebeu o melhor atendimento possível no local, e a equipe o trouxe ao centro de alta complexidade. Devemos lembrar que cada elo, cada parte do atendimento, é fundamental para a recuperação do paciente. Na falta de um componente, a corrente perde a força. O maior beneficiado é o cidadão em necessidade!
Atendimento Ocorrido em 27/03/2012.
Atendimento Ocorrido em 27/03/2012.
Por: 1º Ten Médico Villela.
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