
Araújo, Jordano Pereira1; Torres, Rafael Villela Silva Derré1; Diniz, Felipe Dias Maciel1; Martins, Rafael Ferraz2; Barbosa, Alexandre Garcia3; Gomes, Emmanuel Lucas4; de Sousa Júnior, Aloisio Gonçalves4
1- 1º Ten. Méd. do CBMDF; 2- Asp. Of. Méd. do CBMDF; 3- Cap. Méd. do CBMDF; 4- Maj. Méd. do CBMDF
Introdução:
O benefício do uso de helicópteros
nos sistemas de Atendimento Pré-Hospitalar civis permaneceu controverso durante
muitas décadas, quando não se conseguia evidenciar na literatura científica uma
melhora evidente na mortalidade ou na morbidade dos pacientes em virtude do
atendimento por helicópteros diretamente na cena do trauma (1), (2) (3) (4). Os estudos mais
recentes, entretanto, evidenciam que há queda da mortalidade e da mortalidade,
principalmente quando a tripulação conta com profissionais de nível médico (5)
(6) (7).
Figura1: Aeronaves do 1º EsAvOp
As vantagens do uso de helicópteros no Atendimento
Pré-Hospitalar (APH) incluem: diminuição no tempo de resposta à solicitação,
principalmente em regiões distantes; versatilidade e possibilidade de atuação
em regiões de difícil acesso; disponibilização rápida de suporte avançado de
vida na cena do evento; transporte diretamente para serviços especializados,
quando necessário (8).
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF)
iniciou as atividades com helicóptero próprio em 1996, quando passou a operar
uma aeronave Esquilo AS 350/B2 (9). Naquele período a tripulação era composta
por dois pilotos e dois ou três tripulantes operacionais, nas atividades de
atendimento pré-hospitalar.
A partir de 2009 o serviço passou a contar com equipe
composta também por médico e enfermeiro, além dos pilotos e dos tripulantes
operacionais.
Objetivos: Os objetivos do
presente estudo são apresentar as características do serviço aeromédico do
CBMDF e o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no ambiente
pré-hospitalar.
Material
e Métodos: O presente estudo é
do tipo observacional, descritivo, quantitativo, e constitui-se de uma análise
retrospectiva das fichas de todos os atendimentos realizados entre julho de
2009 e julho de 2012. As referidas fichas são padronizadas e geradas a cada atendimento,
e foram revisadas em busca das seguintes informações: características das
vítimas atendidas (gênero e idade), o mecanismo de trauma, os tipos de lesões
encontrados e os procedimentos realizados pela tripulação.
Resultados
e discussão:
A aviação do CBMDF conta com aeronaves de asa fixa
(aviões) e aeronaves de asa rotativa (helicópteros). Estes últimos são operados
pelo 1º
Esquadrão de Aviação Operacional (1º EsAvOp), que
faz parte do Grupamento de Aviação Operacional (GAvOp).
Figura 2: Tipo de atendimento e gênero
das vítimas de trauma.
Hoje o CBMDF (1º EsAvOp) conta com dois helicópteros, sendo
um Esquilo AS350/B2 e um EC 135/T2 (Figura 1). Este
último está configurado como Ambulância Tipo E ou Aeronave de Transporte, que
se equipara a uma Ambulância de Suporte Avançado, conforme os pré-requisitos da
Portaria n. 2.048 do Ministério da Saúde (10).
As aeronaves do CBMDF
são utilizadas em múltiplas tarefas, dentre as quais estão: atividades de
busca, transporte de pessoal, salvamento em áreas de difícil acesso, combate a
incêndio, além de outras.
Quando em realização de missões aeromédicas, a tripulação das
aeronaves é composta tipicamente por: piloto, copiloto, médico, enfermeiro e tripulante operacional. O
tripulante operacional é um militar treinado na função de auxiliar os pilotos
nas manobras
da aeronave além de
atuar em resgates e no atendimento pré-hospitalar.
Existem hoje sete médicos atuando no serviço aeromédico do
CBMDF: dois cirurgiões, dois anestesistas, um ortopedista, um pediatra e um
cardiologista. Todos tem experiência em atendimento de urgência, além de terem
recebido treinamento específico para a atuação no ambiente pré-hospitalar, e
especificamente no atendimento aeromédico em helicópteros.
As aeronaves do CBMDF atuam no atendimento pré-hospitalar e
no transporte inter-hospitalar de pacientes graves. Os critérios de acionamento
do helicóptero estão definidos em protocolo, e incluem: acidentes
automobilísticos com múltiplas vítimas, acidentes em rodovias com distância
superior a 30Km do centro do DF, critérios clínicos de gravidade (Escala de
Coma de Glasgow menor do que 12 e/ou deteriorando, lesões penetrantes na
cabeça, tórax e abdome, etc.), além de outras (11). Tais critérios foram
baseados no Esquema de Decisão de Triagem de Campo definido pelo Colégio
Americano de Cirurgiões (12).
Durante o período estudado (jul./2009 a jul./2012) foram
atendidos pelo 1º EsAvOp 1020 pacientes, sendo 634 (62,16%) casos de transporte
inter-hospitalar e 386 (37,84%) casos de atendimento pré-hospitalar (resgate) (Figura
2). O presente estudo tem seu foco nesse último
grupo de pacientes atendidos.
Dos atendimentos primários (pré-hospitalares) a imensa
maioria foi de casos relacionados ao trauma (360 – 93,26%), enquanto apenas 26
casos (6,74%) eram diagnósticos clínicos. Essa diferença se deve à própria
característica do atendimento por helicópteros e aos critérios de acionamento.
A maioria das vítimas de trauma atendidas foi do sexo
masculino (278-77,2%) (Figura 2), com uma média de idade de 35,7 (±16,9) anos, com idade variando
de 2 a 88 anos. Esses dados corroboram a tese de que as vítimas de trauma são
em geral homens jovens, sendo que dados do Ministério da Saúde mostram que
entre homens de 20 a 40 anos as causas externas são a primeira causa de
mortalidade (13).
Figura 3: Mecanismos de trauma
Entre as vítimas de trauma, o mecanismo de trauma mais
frequente foi acidente com automóvel (60,0%), seguido por acidente com
motocicleta (10,3%) e atropelamento (8,1%) (Figura 3). É interessante notar
que dados do Ministério da Saúde citam que em 2010 os atropelamentos foram a
principal causa de mortalidade por acidentes de trânsito no Distrito Federal,
ficando o acidente com automóvel em segundo e com motocicleta em terceiro (14). Em outros serviços que prestam APH por meio
de helicópteros, os acidentes de trânsito também constituem o mais frequente
mecanismo de trauma (15) (3) (1) (16).
Os diagnósticos mais frequentes das vítimas atendidas
foram: traumatismo crânio-encefálico (39,2%); fratura de perna (18,9%); fratura
de membro superior (15,6%) e trauma de tórax (13,6%), além de outros (Figura
4).
Figura 4: Lesões mais frequentes
Como rotina, todos os pacientes atendidos receberam
suplementação de oxigênio e foram submetidos a acesso venoso. Em 76 (19,7%) do total de casos , foi realizada
intubação orotraqueal (IOT). Esse dado é compatível com a gravidade dos
pacientes, já que 78 pacientes apresentavam Escala de Coma de Glasgow abaixo de
8, o que é considerado critério para via aérea definitiva pelo ATLS (17). Entre
os casos de trauma, o índice de via aérea definitiva foi de 17,5%.
Conclusões: O 1º EsAvOp do CBMDF
atendeu, no período estudado, principalmente vítimas graves de acidentes de
trânsito, a maioria formada por jovens do sexo masculino, sendo o trauma
craniano a lesão mais frequentemente verificada.
Referências
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Parabéns aos Irmãos do DF, pelo trabalho e pelas histórias de sucesso no Resgate Aéreo, no qual nós de Goiás que somos mais modernos neste tipo de atendimento nos espelhamos, que deus possa estar junto de vocês e de suas famílias nesta ano que se inicia, e que 2013 possa continuar a contar com estes bravos homens.
ResponderExcluirTen.Cel.Méd.BMGo Adriano.